Ontem passei os olhos por um jornal e lá estava um anúncio do Ministério da Educação a abrir concurso para um lugar de CUZINHEIRO. Pronto, não me vou aqui pôr com trocadilhos. Apenas vou lamentar este erro, que talvez seja mero lapso ou ( mais ) claro sinal de como anda a nossa língua…
Depois abri outro jornal de Viseu e deparo com um artigo de opinião de Juãu D. Marques. Ele defende uma radical simplificação da língua. Aquilo que ele diz ser o Português limpo, defendendo mesmo coisas como: “sedênsia, xeqe, xinezise, xicatríx, aqeser, (… ), talvex, vejetarianijmu, isu, ixtu i aqilu”… Segundo ele, deveríamos ter a grafia regulada pelo modo como falamos, pela oralidade. Seria uma simplificação, segundo ele… Esquece-se certamente dos regionalismos e mesmo das milhentas variantes orais, próprias de cada pessoa, que tornariam a escrita uma verdadeira bandalheira, regulada pelo falar de cada indivíduo e, provavelmente, indecifrável para os outros. Uma língua “à vontade do freguês”! E mesmo que essa língua fosse regulada por uma norma, seria a norma de quem? Quem seria o modelo? Ou haverá a ilusão que todos falamos do mesmo modo? Ele próprio escreve metade do artigo usando esta sua versão “simplificadora” da escrita… Bem, não estou habituado a escrita SMS, pelo que demorei muito tempo a perceber o que estava escrito nessa escrita… simples…
Ele afirma mesmo que “ U valor etimulógico da nosa língua já está mais do que registadu i au atualizar a nosa escrita estariamus a valorizar ainda mais esse passadu istórico tal comu oje admiramus um pergaminhu da era dus descubrimentos ou mesmu uma mueda de 2$50”. Bem, será preciso salientar o quão descabidas são as comparações? Ou deveríamos antes reflectir na falta de lógica da afirmação em si própria? Ver a escrita como uma moeda de 2$50 (ou qualquer outro artigo numismático) parece-me mesmo algo grosseiro. Esquece-se certamente que comparou duas coisas muito distintas, pois não me recordo de a pequena moeda ter processos próprios de evoluir… ( Esquece-se que as palavras são o que são porque têm uma origem... )
Defende ele esta simplificação em prol de “uma nova escrita do português que proporcione uma mais rápida e consistente aprendizagem para um estudante do nosso idioma.” Mas porque razão surgiu na actualidade esta urgência de simplificar, de facilitar?! Afinal, o Homem encontra-se num processo de evolução ou de regressão? Porque é que todas as aprendizagens têm de ser rápidas e reguladas pelo mote: “explica-me como se eu fosse muito burro!” A própria aprendizagem deve começar no grau de exigência mais fácil e ir aumentando gradualmente. Mas por esta ordem de ideias, o ideal seria que nunca se saísse dos conteúdos programáticos do primeiro ano de escolaridade. Tudo em prol do facilitismo e da simplificação, claro está! Numa época em que se diz que os miúdos são tão espertos e “parecem já ter nascido ensinados”, não será um contra-senso este desejo de “querer fazer-lhes a papinha toda”? Será que as exigências do passado são agora obstáculos intransponíveis? Mas nós sobrevivemos-lhes, não foi? E até cometemos a façanha de aprender a escrever esta língua tão… complicada!... Seríamos génios?
Uma coisa é certa, na escrita irei continuar a associar cozinheiro a cozinha e não a qualquer orifício corporal…