
Desafiada para discernir sobre o Ambiente, só me vinha à cabeça a ideia de que o Mundo está de facto com Mau Ambiente. Não há tragédia sem consciência e por isso, ao nos apercebermos que o mundo se encontra ameaçado – mais ameaçado do que o nosso ministro do Ambiente podia conceber antes de ver o documentário Un Inconvenient Truth (!) – ao tomarmos também nós todos consciência de que o processo pode já ter entrado numa vertiginosa e incontrolável marcha para que a catástrofe ambiental se globalize, eis que o problema passa a ocupar um lugar de destaque na rentrée. Com a aproximação da estreia do filme-documentário de Al Gore, já os jornais e mesmo alguns canais televisivos apresentavam temas relacionados; mesmo os mais recentes filmes para crianças apontam no sentido do desejo de uma mudança do modo de vida com preocupações ambientalistas; a própria publicidade procura hoje vender uma imagem em que se apregoa um estilo de vida preocupado com as gerações futuras, coisa que até agora poucos pareciam se lembrar; supermercados que ainda não o faziam surgem com campanhas de reutilização de sacos plásticos, anunciando a sua venda para poupar o ambiente.
Se ainda há pouco tivemos a moda dos SPA’s, dos produtos biológicos, das medicinas alternativas, dos yogas e tai chi’s, não estaremos agora perante uma nova moda – a das causas ambientais –, que, tal como todas as modas transporta consigo o estigma do efémero e do superficial? Será que as pessoas vão de facto adquirir consciência e a tragédia ganhar a sua verdadeira dimensão a tempo de o desencadear de catástrofes sucessivas ser evitado?
Como em relação a quase todos os temas graves com que nos defrontamos, mesmo ganhando consciência, o indivíduo pouco pode fazer por si só para mudar o estado de coisas. Esse pouco é, no entanto, a parte que nos cabe enquanto seres conscientes, porque não há nada pior do que ter consciência de um erro e insistir em cometê-lo. Podemos com efeito fazer a nossa parte para danificar o menos possível o ambiente, reciclar, poupar recursos naturais, adequar o nosso modo de vida a um menor consumismo; podemos em suma tornarmo-nos mais responsáveis no dia-a-dia; mas isso irá exigir um esforço grande de vontade da nossa parte e duvido que a maior parte das pessoas, habituadas a consumir desenfreadamente e a esbanjar, esteja realmente disposta a fazê-lo.
Entretanto as catástrofes naturais vão aumentando e se multiplicando, excedendo todas as expectativas dos cientistas, que já admitem que se nada for feito imediatamente o processo será irreversível, imprevisível e incontrolável. Mas já alguém viu a comunidade científica mundial vir para os meios de comunicação dizer a toda a gente quais os verdadeiros riscos e quais as verdadeiras consequências a que o planeta estará sujeito caso não se inverta o processo? Já alguém viu a comunidade científica a bater o pé aos dirigentes que se entretêm em negociar as emissões de gases poluentes, fazendo de Quioto um leilão e não um compromisso?
E, no entanto, aquilo que parece hoje utópico – reformular os recursos energéticos mundiais, substituindo-os por energias renováveis, e que todos dizem ser uma mudança insustentável para o actual sistema económico global, poderia converter-se, pelo contrário, na salvação não só do planeta mas, muito provavelmente, também da economia mundial. Um novo mundo de investimentos se abriria com a adequação do mundo actual às novas formas de energia que, embora a princípio fossem dispendiosas, se poderiam tornar depois compensatórias. O que os poderes actuais instalados não podem conceber é que isso levaria anos, talvez mesmo várias décadas, e o lucro é algo que se pretende imediato. Desde que o Homem se libertou do dogma e se apercebeu de que Deus não existe, de que não há outra vida para além desta onde será compensado, passou a só se importar com a SUA vida, virando-se para o próprio ego, perdendo a sua visão de Humanidade e tornando-se num ser ávido, egoísta, sem instinto de conservação nem respeito pela descedência. Se ele vai morrer, por que há-de o planeta se salvar para os vindouros?
Autoria: Kaotica