A profundidade e diversidade da rica casuística portuguesa na visão da entidade de pesquisas mais ativa do país | |||
Em Portugal, a adopção do termo disco voador por parte da imprensa e da população em geral, para descrever fenómenos aéreos não identificados que começaram a ser relatados no meio do século passado, teve origem na expressão flying saucer, criada pela média norte-americana após o avistamento do piloto Kenneth Arnold, em Junho de 1947. À medida que surgiam mais relatos na imprensa portuguesa, descrevendo manifestações aéreas inusitadas e com formas e características variadas, o uso do acrônimo OVNI, de objecto voador não identificado – tradução direta do termo unidentified flying object – tornou-se necessário. Hoje em dia, o termo OVNI é o mais utilizado pela população do país para descrever o fenômeno ufológico, estando, no entanto, muito associado à hipótese extraterrestre. Existe, contudo, outra denominação que começa a ganhar alguma notoriedade no país, a sigla FANI, de fenómeno aéreo não identificado, cuja utilidade reside na constatação de que uma grande percentagem dos avistamentos não corresponde exactamente àquilo que poderia ser designado como um objecto. É possível encontrar relatos de OVNIs na própria história da formação de Portugal. No país, a observação de fenómenos aéreos de difícil identificação remonta a épocas muito anteriores ao século XX. No entanto, é de se salientar que, durante muitos séculos, a maior parte dessas ocorrências foi interpretada e vivenciada como manifestações religiosas. Podemos então identificar dois tipos de observações: aquelas que remetem desde logo para a religião e aquelas que, desde o primeiro momento, se viram sempre envoltas em dúvida e mistério. Do primeiro tipo, as de interpretação religiosa, geralmente designadas como aparições, existem muitos casos conhecidos, sendo que alguns deles estão verdadeiramente entrelaçados com a história portuguesa. Um bom exemplo é a lenda que relata a aparição de Jesus Cristo a dom Afonso Henriques, que viria a ser o primeiro rei de Portugal, antes da Batalha de Ourique. Essa importante batalha, ocorrida em 25 de Julho de 1139, foi determinante para a instauração do reino português. Dela, cinco reis mouros saíram derrotados. O feito adquiriu tal importância no contexto internacional da época que, a partir daquela data, dom Henriques passou a utilizar o título de rei – da expressão rex – e o reino português passou a ser ainda mais reconhecido no mundo. A descrição da aparição, chamada de Milagre de Ourique, surge na obra Anais de Santa Cruz de Coimbra. Segundo estes documentos, Jesus Cristo teria aparecido ao monarca no céu dentro de um raio luminoso, rodeado de anjos, a incitar à vitória sobre os muçulmanos. Como esta, outras aparições marcaram a história e o destino de Portugal durante os subsequentes séculos até o XX. Um caso que é hoje utilizado como referência por parte da Ovnilogia moderna [Ufologia moderna] como exemplo de OVNI em formato de cruz ocorreu em 1513, no Mar Vermelho. Não existe certeza quanto à data, mas se crê ter sido no mês de Abril que dom Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei da Índia portuguesa, avistou no céu uma cruz vermelha e resplandecente. Comandava uma frota de naus e viu o fenómeno na direcção do poente. A ele se sobrepôs uma nuvem que acabou por se dividir sem interferir com a cruz ou reduzir sua luminosidade. O fato foi interpretado como sinal divino, redentor e encorajador, uma vez que a navegação estava difícil na época. O fato se encontra relatado na primeira pessoa pelo próprio dom Albuquerque, em carta enviada ao rei, dom Manuel I, em Dezembro daquele ano. Posteriormente, foi descrito pelo historiador João de Barros. Fenómenos na Antiguidade — Existem ainda outros casos que foram incluídos na categoria de fenómenos aéreos não explicados por não serem imediatamente associados à religiosidade. Um exemplo consiste na observação de um notável fenómeno nos céus de Castelo de Vide, no Alentejo, em 1726. Conforme descrito na Gazeta de Lisboa, de 07 de novembro daquele ano, o fenómeno ocuparia uma considerável área do céu, em formato de serra de cor vermelha. O artigo refere ainda ao tamanho estimado de quatro léguas, cuja largura corresponderia a um terço do comprimento. Das descrições, consta ainda a referência a raios de luz provenientes do objecto, que iam perdendo e recuperando a cor. O fenómeno durou horas, sendo que, após um acréscimo de intensidade luminosa, esta foi diminuindo até que todo o fenómeno desapareceu por completo quando a noite já ia alta. O mesmo jornal, que era um veículo de referência na época, informou ainda que, dias antes, algo idêntico teria sido observado mais ao sul. Também é bastante conhecido na Ovnilogia Portuguesa que o grande terramoto de 01 de novembro de 1755 foi precedido pela observação de diversos globos de luz intensa sobre vários pontos do país. Um dos mais interessantes casos portugueses, este avistamento ocorrido na localidade de Alfena, em setembro de 1990, foi registrado em foto. O objeto foi descrito como tendo aspecto metálico. No detalhe, um artefato voador não identificado esférico registrado em 1947 Importante contribuição dos pioneiros — Tais relatos começaram a ser encarados como potenciais OVNIs somente no século XX. Esse próprio século encontra-se recheado de avistamentos ocorridos tanto em Portugal continental como na suas ilhas, sendo que, com o advento da Ovnilogia como área multidisciplinar, muitos deles foram de imediato averiguados e outros só mais tarde foram resgatados por investigadores interessados. Os portugueses, ao longo das últimas décadas, não só acompanharam o que se passava no exterior, através dos meios de comunicação social, como vivenciaram fenómenos em seu próprio território. O país reflecte algumas das muitas observações de OVNIs de âmbito internacional, sendo esta correlação mais notória durante a década de 50. Apesar de ter sido comum na imprensa portuguesa, durante a época da ditadura, notícias sobre a observação de discos voadores, não houve organização de grupos civis de investigação. Há, no entanto, algumas personalidades interessadas que divulgaram o tema, das quais podemos destacar o jornalista Hugo Rocha, autor dos primeiros livros portugueses sobre OVNIs, e também Sánchez Bueno, com várias obras sobre o assunto. Bueno compilou tal número de notícias sobre avistamentos que, mais tarde, já nos anos 70, fundou o Centro de Estudos Cosmológicos e Parapsicológicos (CECOP), em Lisboa. Contudo, o cenário alterou-se completamente depois da Revolução dos Cravos, em abril de 1974, e do regresso da democracia, crescendo o interesse por novas ideias e assuntos tabus, entre os quais estavam os OVNIs. Apesar de ter sido formado em 1973, ainda no período pré-democrático, o Centro de Estudos Astronómicos e de Fenómenos Insólitos (CEAFI) é uma das mais importantes associações da história ovnilogia portuguesa. A entidade cresceu, em conjunto com outros grupos, na segunda metade dos anos 70, verdadeira época de ouro da Ovnilogia Portuguesa, quando existia não só maior número de grupos de investigação como publicações sobre a temática. Leia esta matéria na íntegra adquirindo a Revista UFO 142 nas bancas. | |||
Autor: Equipe SPO | |||
Fonte: UFO 142 | |||
Crédito da foto: Giuseppe Colinni e Jim Nichols |
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